Uma vontade de sair correndo sem me mexer. Um pavor calmo e, pra quem nada entende de espasmos assustados, até sorridente. Abaixar e abrandar tudo em mim que ainda se debate pra continuar onde estava. Eu sumo. Desapareço. E começam as piadinhas “deixa, ela é assim mesmo”. Uma coisa horrorosa me assusta e eu quero algo que não é nem a minha mãe e nem a minha cama e nem a minha casa. Ainda existe ir embora. Mas da onde? Eu sempre querendo ir embora. Mas pra onde? Quero um colo quente e um ombro que nunca conheci. Não é de homem, de amor, de força. O que é isso? Um enjoado que não faz passar mal. Um frio que não precisa de agasalho. Uma necessidade absurda de ir para um lugar que eu nem imagino qual seja. Uma saudade de vida inteira como se eu já tivesse vivido. Uma coisa enorme e ao mesmo tempo concentrada naquela picadinha de inseto atrás do meu joelho que incha e incomoda do tamanho do mundo. Uma angústia que estremece até aqueles cantos da gente que a gente passa batido. Mas que acaba com o oxigênio.
Sento sozinha onde a vista é mais bonita. Aperto meu celular. Pra quem eu quero ligar? Quem? Ninguém. Não é saudade de gente essa coisa. Não é coisa que passa de ouvir voz ou desejo ou coisas bonitas. Então passa com o quê? É saudade da família, do cara, da cachorra? Não. Escuto os outros e enquanto isso acontecer, não vai passar. Preciso me escutar. Mas não tenho nada pra me dizer. Só esse vão dos pensamentos. Só esse intervalo de motivos. Só a soneca merecida do carrasco que mora no centro da minha cabeça. Só o momento alienado das listas. Esse bueiro vazio embaixo da vida. Essa falha da linha embaixo do que se tem a dizer. Esse nada que caio, de vez em quando, e que também não tem nada pra me dizer a não ser que o mistério também faz parte. Assim que eu me sentir mais leve, simplesmente saio dele, sem nada concluir. Não dá pra forçar, levar um choque de voltar pra superfície. Só o que existe é enfrentar esse algo que jamais soa como algo a ser enfrentado, já que não é nada.
Ninguém entende nada. Então só me afasto e aperto o celular. Não quero nada e nem ninguém. Aperto apenas pra lembrar que existe, ainda, uma lista de querer dentro de mim. Que uma hora volta. Daqui a pouco eu volto e tudo volta.
E isso é...putz, e isso é tão lindo que eu queria poder, agora, amar demais tudo e todos. Amar daquele jeito perfeito que dura um segundo e não quer nada em troca. Mas não faço nada disso. O quanto deixo de assustar os outros com a minha maluquice e me assusto com a maluquice dos outros em mim.
Acabou. Talvez ir dormir, por exemplo. E poderei me libertar dessa obrigação pavorosa de estar feliz e simpática e emanando coisas boas. A ditadura da felicidade. Eu quando fico estranha, quando tenho o “troço” que me dá, a última coisa que quero é um abraço. Canto bem alto. Danço. Abraço os restos das pessoas espalhados pelos restos das festas. Agora é a minha vez. Ufa! Acabou! Ufa! Acabou! Acabooooou! É isso. Não sei ser feliz com os finais que chegam. Mas sempre dou um jeito de me divertir quando sou eu que, apesar de tudo, chego até o fim.
E se eu pudesse desabafar sincera e brevemente uma unica última vez eu simplesmente diria: